sábado, 24 de agosto de 2013

refletir na sala de ginástica sobre o corpo

"Quando mediu sua fraqueza, boa parte da confiança que tinha em si mesma esvaiu-se. Foi o início de uma evolução que a levou a se feminilizar, a realizar-se como passividade, a aceitar a dependência. Não ter mais confiança no corpo é perder confiança em si próprio. Basta ver a importância que os rapazes dão a seus músculos, para compreender que todo indivíduo julga o corpo como sua expressão objetiva.", escreve Simone de Beauvoir em O Segundo Sexo. Li este livro pela primeira vez em 2004 quando eu trabalhava como recepcionista em uma academia de ginástica. Na passagem da adolescência para a juventude, eu me tornava feminista, começava a ler Beauvoir, descobria que tornar-se financeiramente independente e escolher uma carreira não era fácil e me posicionava contra o culto ao corpo e à beleza ideal que... por acaso... ocorria no único local onde eu conseguira trabalho. Li O Segundo Sexo antes de estudar filosofia e antes de ter consciência e coragem (demorou, viu?) de afirmar "sou feminista". Hoje é desse livro que tiro o tema da minha pesquisa de mestrado. Sou mestranda em Beauvoir e frequento uma academia de ginástica, não mais como recepcionista mas como hummm... cliente? Aluna?
Nos últimos anos venho descobrindo (parece que não se descobre de cara, pelo menos no meu caso não foi assim) que tenho disfunção da articulação temporomandibular, também conhecida como "disfunção de a.t.m.", algo que pode ser tratado mas não curado. De minhas idas a especialistas, monitoramento de notícias na internet e conversas com outras pessoas que possuem o mesmo problema pouco concluí e muito descobri... informações como... que há pessoas que ficam surdas depois de algum tempo. Da minha experiência posso contar que as dores aumentam com os anos, dores na mandíbula, nos dentes, na nuca, nos ombros, nos olhos, nos ouvidos, nos braços, além dos zumbidos nos ouvidos e das tonturas. Má postura e ar condicionado me deixam pior, e fisioterapia, acupuntura, RPG, troca de colchão e travesseiro, natação, caminhada, mochila, tratamento ortodôntico, arnica e pomada cataflan trouxeram algum alívio. Relaxante muscular trouxe muito alívio, mas não estou interessada em comprimidos. A placa feita em acrílico para bruxismo trouxe muito, muito alívio. E junto com a placa, a ginástica, ou "academia", como se diz, trouxe muito, muito mais alívio... cerca de trinta dias sem dores fortes e vida quase normal.
 A disfunção da articulação temporomandibular é o primeiro motivo para eu ter colocado os pés na sala de ginástica. Cheguei lá no meio de pessoas animadas em roupas justas e da música energética em volume alto, e pensei, além de já ter informado as instrutoras: "estou aqui pela saúde"!
As dores diminuíram, e outras coisas mudaram. Comecei a refletir sobre o que eu fazia lá, o que eu fazia com o meu corpo lá, o que o meu corpo fazia lá, e descobri algumas coisas... Bem, sempre fui muito sedentária e sempre fugi das aulas de educação física, não tanto pelo esforço físico, mas muito mais pela socialização, e cresci rápido demais devido a uma doença. O que uma pessoa, uma mulher, que viu o seu corpo crescer rapidamente, mais rápido do que a sua capacidade de sustentá-lo e aceitá-lo pode aprender sobre este corpo em uma sala de ginástica? O que uma mulher, criada para tornar-se mulher, na delicadeza, sem luta, sem movimentos bruscos, que não está pensando na aparência pode aprender sobre o próprio corpo em uma sala de ginástica?
Posso dizer que nos últimos meses tenho aprendido que este corpo, que é meu (e é tão difícil deixar isto claro), não é só um objeto visto e legislado, nem só um receptáculo de dor, mas que é um instrumento, é um dos meios que tenho para me colocar no mundo. Na sala de ginástica aprendi a saber como algumas partes do meu corpo funcionam, o que elas podem suportar e o que elas podem mover. Aprendi a equilibrar este corpo ou a me equilibrar neste corpo, a ter confiança nele. E, por incrível que pareça, confiar no meu corpo tem me ajudado a confiar mais em mim mesma. É aí que começo a entender o que Beauvoir escreveu: "Não ter mais confiança no corpo é perder confiança em si próprio." Embora os costumes machistas exaltem a força física masculina e a violência física como prova de virilidade, não podemos descartar a importância de desenvolver a força física, não me refiro a estes propósitos aos quais somos contrárias, mas penso em não descartar a força física como forma de ter algum domínio sobre o mundo, e sobre o próprio corpo, além de adquirir a capacidade de defender-se. Afinal, são os mesmos costumes machistas que exaltam exageradamente a força física masculina e pregam a delicadeza, e o não desenvolvimento da força física feminina. E daí seguem muitos outros obstáculos que conhecemos e dos quais Beauvoir fala em O Segundo Sexo
Meu propósito aqui era contar como curiosamente comecei a gostar de ginástica, dos aparelhos e dos pesos, depois de dar o meu próprio significado à sala de ginástica, e ainda compartilhar uma reflexão que para mim está só começando: o que refletir sobre este corpo?

diversidade sexual, prostituição e revista feminina - quinta, sexta e domingo

Estudo identidade e condição feminina em O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir com o objetivo de levar a minha pesquisa às questões da reciprocidade na mesma obra... mas isso é outro caso. Faço esta pesquisa porque enquanto pessoa me preocupo e questiono o feminino e, consequentemente, as questões de gênero também. Assim, os múltiplos temas desse universo me atraem, e por isso procuro estar presente em eventos onde haja essa discussão, não só pelo lado acadêmico, mas por interesse pessoal. Enfim, não sei se é por que aqui é São Paulo (ondetudoaconteceaomesmotempoagora!), ou se cada vez mais ganha-se espaço para falar dessas coisas, mas havia eventos para eu ir na mesma semana na quinta-sexta-sábado-domingo, é, assim mesmo.
Apesar da minha fama de quem não faz nada e de quem não mora tão longe, no meio de tantos eventos bacanas havia um bocado de coisa pra eu fazer, e a SPTrans continuou ignorando a proximidade do meu bairro aos locais onde acontecem as coisas interessantes, então não me sinto alguém que esteve 100% mergulhada em tudo para escrever um relato completo sobre cada evento, além disso, nem tenho vontade de "fazer a crítica", nem de julgar, os trabalhos e as pessoas que encontrei naquela semana. Meu intuito aqui é tentar escrever sobre as mil ideias, os mil questionamentos e a troca que houve em cada espaço.

Uma quinta-feira do mês de Agosto de 2013

Abertura da exposição interiores : diversidades no Sesc Pinheiros

Era sobre "um mundo ainda marcado pela ditadura do rosa e do azul; do masculino e do feminino" que falava a legenda da primeira foto que vi quando entrei no espaço da exposição ... "sexo biológico", o verbo "desconstruir", "gênero", "identidade", "diversidade"... estas palavras e muitas outras nas falas das pessoas fotografadas... mas isso é Judith Butler, eu pensava, e via que está também na fala de gays, lésbicas, transexuais, travestis, heterossexuais cisgêneros que apoiam a diversidade sexual e de gênero e que questionam a heteronormatividade... Todas, todos e todxs estavam na proposta de Fábio Takahashi e nas fotografias de Walter Antunes! Também na abertura foi exibido o documentário "Amanda e Monick", dirigido por André da Costa Pinto, sobre duas travestis no sertão de Pernambuco, seguido de um debate com Fábio e Walter. O meu primeiro contato com as fotos, rápido e parcial, me fez pensar em desconstrução: a famosa e ideal desconstrução do gênero, a desconstrução do rótulo, a desconstrução do exótico, a desconstrução dos espaços onde se espera que as pessoas das fotos estivessem, a desconstrução do mito... não eram trans, bi, homo, cis, hétero etc cada qual em sua jaula, mas eram pessoas na cozinha, no quintal, no barzinho, lendo, cozinhando, conversando, rindo... vivendo e sobrevivendo. Oh, finalmente, somos todxs pessoas criando significados para cada ação em cada momento, improvisando na vida, e não essências pré-determinadas. Oi, desconstrução! Antes que eu terminasse de ver as fotos, convidaram-nos ao auditório para o documentário e o debate, e foi aí que no meio da desconstrução eu dei de cara com partes que foram bem edificadas a ainda serem desconstruídas, bem, isto na minha opinião... assim, sentindo-me arrogante por me desesperar em minha cabeça dura pensando "mas não é assim, vamos desmontar essa construção cultural", escutei as pessoas do filme e escutei o debate.
    Toda e qualquer intenção ali me pareceu válida, e incrível, mas permanece a vontade de compartilhar as minhas impressões dali, sem julgar e sem achar que quem tem a verdade sou eu, afinal eu não trabalhei no projeto, nem experienciei o que o projeto retrata. Deixo então as minhas inquietações em forma de perguntas: Pensar em desconstruir o gênero, para libertar as pessoas dessa identidade construída, especialmente o gênero feminino e especificamente de um ponto de vista feminista, implica em considerar os aspectos opressores da feminilidade, como a exaltação do corpo extremamente feminino ou de um ideal de beleza a ser perseguido, ou como quisermos chamar... porém nas mulheres trans em geral, ou pelo menos no documentário, essa exaltação aparece como algo positivo e marcante na identidade delas... como a aparência dita feminina, ou as marcas da feminilidade no corpo, passam de carga negativa de muitas mulheres cis a característica revigorante e que causa orgulho na construção da identidade das trans? E será que a prostituição como trabalho bastante frequente das mulheres trans e travestis teria alguma relação com essa exaltação do corpo feminino a ser desejado? E por que as roupas, os cabelos e toda a aparência física de quem abandona um gênero (masculino ou feminino) precisaria necessariamente rumar a outro (masculino ou feminino), ao invés de reinventar-se? Por que associar o seu desejo por homens, ou por mulheres, ou por homens e mulheres, às características ditas femininas ou ditas masculinas? Por que brincar de boneca necessariamente indicaria a homossexualidade do ser humano que nasceu com um pênis e é identificado como "homem", se a suposta "tendência" do ser humano identificado como "mulher" a brincar de boneca não passa de uma construção social e não se trata de algo natural? Por que insistir em acreditar em um deus que não aceita a sua identidade e não questionar o que é, ou se até mesmo existiria, tal deus? Por que um juiz nega a uma trans a adoção de uma criança alegando que o que ela queria era uma boneca para brincar em uma sociedade em que se tenta construir a vontade de ser mãe em todas as mulheres cis dando-lhes bonecas para brincar durante a primeira socialização? E por que uma criança não poderia ser bem criada por um casal composto por dois homens mas estaria bem criada em uma instituição que não lhe ensina o que é gelo, nem que anoitece?
Não cabe a mim condenar, nem encontrar erros nos discursos ou modos de viver de outras pessoas neste texto, mas somente trazer questões que impulsionam a minha vida e a minha pesquisa para tentar propor alguma reflexão. Algumas delas foram compartilhadas, longe do público do debate, no meu retorno à exposição, quando fomos (o amigo fotógrafo Pedro e eu) muito bem recebidxs por Walter, sim, o fotógrafo da exposição, e Luama Socio, que esteve bastante presente no projeto. Walter e Luama foram bastante pacientes nos contando sobre o projeto e sobre cada foto, e ouvindo as minhas indagações e pitacos sobre o assunto. Que a reflexão, os questionamentos e a desconstrução estejam apenas começando.


Uma sexta-feira do mês de Agosto de 2013    

1ª parte da oficina sobre mulheres e prostituição com Margareth Rago na União de Mulheres

Margareth Rago sabe fazer algo que às vezes eu espero que um dia eu consiga fazer e que ao mesmo tempo penso que não sei o quanto acho que se deva fazer... ela trata de assuntos pesados com leveza. Ela é sorridente, ela é irônica e ao mesmo tempo divertida. Não posso negar que faço parte do grupo que corre preencher rapidamente as vagas de suas oficinas.
Mas qual é a da prostituição? Se pensar na desconstrução de gênero na noite anterior me chacoalhou as ideias, pensar a prostituição me deu um nó, como sempre dá! Para contribuir, ou não contribuir, a minha leitura do capítulo sobre prostitutas e cortesãs de O Segundo Sexo não é das mais fluidas, ou seja, o nó fica mais apertado. Mas a Margareth é leve... conta sobre as categorias absurdas que médicos (sim, médicos) já criaram para prostitutas, para mantê-las marginalizadas, como quem conta uma piada. O riso é por se tratar de algo absurdo e já superado, ou o riso é de nervoso por algo tão absurdo ainda deixar resquícios do que não foi superado? E o que foi superado? Gabriela Leite é o tema destacado na oficina: de estudante da USP a prostituta por opção e por revolta contra o tédio na década de '70, e mais tarde candidata a deputada carregando consigo sua militância na questão da prostituição, segundo conta Margareth. Em algum momento a prostituição é opção? Ou, por que existe a prostituição? Amor livre acaba com a prostituição? Enquanto o amor livre não chega, o que fazer com a prostituição, especificamente com as más condições nas quais as prostitutas se encontram? O que se vende na prostituição? O que se vende em outros trabalhos e/ou profissões? Como escolher ser prostituta para quebrar com os padrões de sexualidade feminina e participar do jogo de padrões da política em um simples ensaio fotográfico?
Essas são as perguntas que me guiam[?] nos labirintos da reflexão pós oficina. Não, não tenho as respostas, mas continuam pensando nelas. O que trará a segunda parte da oficina?

Um final de semana do mês de Agosto de 2013

Casa Tpm 2013 no Nacional Club

O que é a revista Tpm? O que quer a revista Tpm? O que quer a revista Tpm em um salão chique em um final de semana com uma feminista radical e com uma profissional da Moda que já apresentou um daqueles programas que lhe contam sobre aquelas coisinhas, aqueles mimos, que você super-tem-que-ter? No cansaço da semana e na falta de empolgação pela desconfiança em relação ao evento, só passei por lá no domingo. Digo que a experiência foi mais interessante do que boa, e que é bom saber o que uma revista dita feminina quer quando propõe um encontro para falar de "mulher". Oi, revista Tpm, falar de mulher não é fácil não, hein? Simone de Beauvoir, e antes dela Virginia Woolf, por exemplo, tinha uma questão: "O que é uma mulher?" Quanto tempo teríamos para responder? Uma vida toda talvez, porém a Casa Tpm fez propostas do tipo "uma ideia em cinco minutos"! Cinco minutos? Cinco minutos pra falar de casamento, "vai!" ... e durava um pouco mais, ok, mas era vago.
Não sei se é por ser o último texto desta série que venho propor, ou se é por se tratar do evento mais descontraído e talvez o mais descompromissado dos três, e também por eu não querer citar nomes de palestrantes, mas este relato segue ainda mais simples.
Ficam as observações e as questões então:
O local era chique e o evento já se colocava como hype, antes de se divulgar a programação já era um evento disputado. As pessoas queriam estar lá por estar lá, e muitas pessoas queriam isto. Era um lugar diferente, tinha uma sala para pintar as unhas, tinha bem-casados de graça (sim, bem-casados bem docinhos e bem gostosos mas que me inquietam enquanto símbolo do evento!), tinha aspecto de programa de tv e tinha patrocinadores aproveitando para vender os seus produtos. Oi? O que eu fui fazer lá? Eu fui até lá para saber o que pode acontecer na festa em que os mimos da feminilidade convidam os feminismos! E o que acontece? Meia dúzia, eu inclusa, aplaudem a feminista radical que tenta acrescentar algo não tão óbvio, que tenta despertar a consciência das mulheres enquanto vítimas de tanta opressão, e ganha a maioria dos aplausos a mulher super-moderna-emancipada que joga a culpa no público que a aplaude. Sim, das três da tarde às sete da noite, mais ou menos, com muitas dores de a.t.m. por causa do ar condicionado forte do local chique e doida por um relaxante muscular, ouvi diversas vezes que a culpa era nossa... nossa culpa por haver machismo, nossa culpa por não termos espaços nos coletivos liderados por homens, nossa culpa por comprar roupas demais, nossa culpa pelos meninos tornarem-se homens machistas, nossa culpa por existirem blogs com o "look do dia", nossa culpa, nossa culpa, nossa culpa! E culpa da famosa "falta de educação", porém não lembraram que muitas vezes é a educação que também reforça o machismo.
Mas para além de ter a oportunidade de pintar as unhas para aliviar a culpa, o feminismo ganhou voz e alguns aplausos na frente das leitoras de Tpm, uma garota viajou horas para o evento por causa da revista e descobriu-se interessada em feminismo, um palestrante comparou o filme A Branca de Neve com o filme Uma linda mulher trazendo a espera do príncipe encantado como problema grave, descobrimos que estamos mal representadas nos filmes, e alguém disse com todas as letras (e não sei se escrevo aqui exatamente da forma como foi dito) que não bater e não estuprar, além de denunciar os outros homens que fazem isto, seria parte da contribuição dos homens com as mulheres... Houve choque e tensão... o feminismo encontrou o discurso da mulher supostamente livre, bem sucedida e resolvida que só-é-vítima-do-machismo-por-culpa-dela. Algo positivo pode ter saído deste encontro, talvez, espero que sim. E algo ficou evidente pra mim: há falha na comunicação. Então eu pergunto: como feministas, nós, feministas (me incluo me considerando feminista e me considerando parte do problema) podemos flexibilizar os recados a serem transmitidos? Como não perder a paciência e como explicar as nossas reflexões a quem se assusta com as mesmas e pelo susto resiste a elas?

E como dar força aos recados? Como dar força ao desfecho deste texto fragmentado cheio de questões e reflexões irritantes, torcendo para que nada seja mal entendido? Aviso que aqui é o fim? Recado dado?

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

" Drivin' " - The Babes in Toyland

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Where were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about you 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

vermelho sangue, cor feminina?

É com a chegada do sangue que vem esta secura de carinho. É em seu fluxo, no corpo, que segue o absurdo da falta, da saudade, construídas em metade da humanidade. Uma vez por mês a saudade é sanguinolenta, o suor é frio e a saliva, seca. É o semáforo com o sinal vermelho que se instala dizendo "mantenha distância" e nela instaura uma cegueira que se dirige para cima do sinal, para além do sinal, em busca do que pode sumir a qualquer momento. Cega e surda sangra insegura, pretende segurar quem ela nem sabe se planeja fuga. Quer segurá-lo na imanência? Torna-se rabugenta e é assim que afugenta, e depois se afoga em lágrimas, em todas as lágrimas, por causa da cebola que corta, do sangue que corre e de quem NEM foge. Lágrimas de sangue ilusórias e um sentimento fantástico de falta; nestes dias, é o cérebro que sangra, e o corpo que reflete? Pede reforço de chocolates, remédios e cobertores, de tudo que a impeça de "fazer a mulherzinha"... Tudo isso por que um dia se tornou mocinha... ?

sábado, 3 de agosto de 2013

"All the lonely people Where do they all come from? All the lonely people Where do they all belong?"


Owner of a Lonely Heart - Grey's Anatomy

Forty years ago The Beatles asked the world a simple question. They wanted to know where all the lonely people came from. 



Eleanor Rigby (The Beatles)

Ah, look at all the lonely people
Ah, look at all the lonely people

Eleanor Rigby picks up the rice in the church where a wedding has been
Lives in a dream
Waits at the window, wearing the face that she keeps in a jar by the door
Who is it for?

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?

Father McKenzie writing the words of a sermon that no one will hear
No one comes near
Look at him working. Darning his socks in the night when there's nobody there
What does he care?

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?

Ah, look at all the lonely people
Ah, look at all the lonely people

Eleanor Rigby died in the church and was buried along with her name
Nobody came
Father McKenzie wiping the dirt from his hands as he walks from the grave
No one was saved

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?









phrasal verbs que ilustram a vida - parte 2 - get over

get over sth/sb phrasal verb


to get better after an illness, or feel better after something or someone has made you unhappy 

[sem título]

Era o frio ou era eu?
Era seu ou era dela?
Era ela ou era eu?
Era minha ou era sua?
Era uma ou eram duas?
Era o tempo ou a falta de?
Era o seu ou era o meu?
Era cedo? Era desespero?
Era conselho?
Ou era receio?
Ou era só despejo?

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

rock, fanzines, Breeders e eu - "Summer is ready when you are!"

O rock, os fanzines, o feminismo, a filosofia, algumas pessoas, e tudo isso junto, me salvaram. Ter vontade de escrever este post me faz lembrar de quando eu descobri os fanzines, e quando comecei a fazer o meu, o saudoso BURN! Don't Freeze!!, cujo slogan era "música - dicas - idéias - críticas", isso foi há pouco tempo, quando "ideia" ainda tinha acento. Ele nasceu no final de 2003, na virada para 2004 - qualquer hora faço um post só sobre ele aqui! - e morreu na virada de 2007 e 2008, deixando a semente para um novo zine, o fracassado Levemente inviável, que era simplesmente um natimorto, mas tinha boas intenções. Logo veio o Histérica, ideia de duas amigas queridas, zine feminista que foi muito especial, em outro formato, em outro contexto, mil coisas borbulhando e que... teve seu tempo... Será inesquecível pra mim mas hoje não estou mais nele. Meu ato de "zinar" hoje está concentrado aqui, não ainda exatamente do jeito que eu quero, mas já tomando forma... e o que acontece aqui me lembra muito aquilo de "música - dicas - idéias - críticas": um lugar onde eu podia dizer o que eu queria, tentar apontar algo que eu achava errado, ou escrever com canetinha e paixão sobre uma banda que me arrebatava... só que sem peso, sem pensar nas consequências, coisas que a gente faz no final da adolescência... Dez anos depois eu me sinto mais cuidadosa aqui, sem certeza das "minhas verdades" e do quanto posso dizer que as coisas são assim e ponto final.
Enfim... mas deixando um pouco o peso do tempo de lado, a minha ideia neste post é retomar um pouco dessa relação despretensiosa ouvinte-banda em uma folha, ou uma tela, em branco, preenchida por um texto e algumas fotos. O que me leva a fazer isto é o show da banda The Breeders, que aconteceu semana passada, no dia 24 de Julho de 2013, no Cine Joia.

Ahooh Ahooh Ahooh Ahooh Ahooh Ahooh é o barulho que vem à minha cabeça quando penso em Breeders... inevitável não lembrar do hit Last Splash, já que ouvi falar da banda pela primeira vez na grande mídia, numa tal de Mtv, e que, sim, é uma música muito legal! Last Splash é também o disco que faz 20 anos, o motivo do show, que consistiu em tocar o álbum do início ao fim, na ordem do cd, do jeito que dá pra escutar em casa... com uma música terminando e você já ansiosa para a próxima começar, é como se fosse uma música só que você sabe cantar do início ao fim!!! 
A primeira vez que vi a banda foi em 2008, meu primeiro festival com muita gente, quando multidões não me incomodavam, nem me davam falta de ar. Não consegui ficar tão perto, mas até que eu conseguia enxergar um pouco porque eu sou grandona, né, e foi incrível. Lembro que na hora de Last Splash, a música, o hit, comecei a pular entre as pessoas e torci o pé... foram alguns dias de pé arrastando no trajeto Mooca-Perdizes para o trabalho, mas o pior, foi o pé arrastando no show do R.E.M. três dias depois, sem pulos, mas com muita alegria também. Este retorno às Breeders foi tão incrível quanto à primeira vez, mas foi outro momento.
Não sou mais tão jovem, não me refiro tanto à idade, mas mais em relação a experiências, emoções, e rabugice com o que já me aconteceu em tão pouco tempo, enfim... mas mesmo assim o coração pulou, principalmente ao ver um coração lindo no flyer do show, o coração da capa do disco, ao saber que haveria um show das Breeders há poucos minutos de casa (embora a SPTrans não entenda bem esta distância), onde eu ouviria o Last Splash todo... sim, TODO, incluindo a faixa cinco, Roi, que eu amo mas não acho que seja tão popular para que resolvam tocar em qualquer outro show. Yay! Passei por cima das dúvidas e das inseguranças pessoais, focando só no amor à música, comprei o ingresso e deixei pra lá os livros de francês que preciso para um curso que começa na semana que vem.  Mas as dúvidas e as inseguranças voltaram... e joguei o Last Splash em cima delas: coloquei o cd pra tocar como trilha sonora na faxina do quarto, e eu estava sorrindo de novo e desistindo de pegar o dinheiro de volta, e me lembrei disso todas as vezes em que as dúvidas voltaram. (Alguém me ajuda a comprar os meus livros de francês com desconto? Realmente, ainda não comprei...)
Poderia comentar cada música do show, mas isto eu deixo para minhas amigas e amigos especialistas em Breeders, porque afinal, o meu amor pela banda aumenta a cada show, consiste em algo em processo, não está completo e eu não conseguiria analisar o show tecnicamente com aquelas precisas informações enciclopédicas que enriquecem o nosso conhecimento. O meu negócio é sentimento, sinto tanto quanto penso, às vezes penso mesmo porque sinto demais. 
E foi pelo tanto que pensei sobre a falta de ar que tenho sentido, a sensação de estar presa em multidões, que me fez decidir: verei o show da parte superior da casa, sentada e de longe, já está bom. Parecia o bastante já ter saído de casa no super frio que chegou em São Paulo naquela semana e sob efeito de quarenta gotas de Buscopan para aguentar a super cólica que chegara naquele mesmo dia... tudo isso em meio ao meu caos emocional, porque as coisas não cessam de acontecer ao seu redor nem mesmo nas férias, nem no dia de um show incrível. Mas quando se tem amigas queridas, é possível superar algumas coisas, e foi por causa de uma delas que eu pensei que talvez não houvesse problema em ficar lá na frente (no lugar incrível que conseguimos chegando duas horas antes do show!) por pelo menos duas músicas, ou cinco (Roi é a a quinta!), ou por todo Last Splash, bom, mas aí eu já estava BEM na frente, com as letras empacadas na garganta, me sentindo rodeada por um bocado de gente hipnotizada que não ficaria muito feliz em ceder passagem no meio do show... aliás, com razão essa gente! Então eu respirei fundo, com lágrimas rolando enquanto tocava Drivin' on, e me apoiei no degrau que havia abaixo do palco, pensando: "Ontem eu troquei ideia com o Lee Ranaldo, e hoje eu vejo e ouço Breeders aqui, na minha frente". As condições naturais, a condição de fêmea, podem ser transcendidas, se você se encontra numa situação onde elas possuem outro significado, me ensinou Beauvoir, e havia tanta alegria ali que as cólicas se foram, e a angústia do caos emocional daquela semana foi suspensa pelo tempo que as músicas duraram, prolongando-se até o dia seguinte. 

I like all the different people. I like sticky everywhere. Look around, you bet I'll be there! era o que eu pensava na faxina, imaginando como seria ver a banda mais uma vez, embora eu me encontre atualmente num estado quase recluso, a vontade era de cantar esses trechos da música Saints
In the crowd you bet I'll be there! E a multidão era assustadoramente bonita: as pessoas cantavam, gritavam (ok, poderiam ter gritado menos nas belas pausas de Roi), pediam a atenção da banda (embora a melhor atenção que pudéssemos receber era a música) e até queriam dar mosh. No palco, as irmãs Deal, especialmente a Kim ("Be good! The Pope is watching you!", ela provocou), eram só amor! A banda toda era especial ali, mas não dava pra perder nada de Kim e Kelley! O contraste das Deal era Josephine Wiggs, a baixista, com a sua postura imponente que prendeu o meu olhar, embora ela parecesse descontente, nervosa, ou triste, com um ar fechado, ela e seu baixo me transmitiam a sensação de serem inabaláveis. Ela, seu baixo, e Head to toe, que veio na leva de músicas, depois de tocarem todo Last Splash, anunciada por Kim como uma música cuja letra fora escrita por Josephine: Your face looks good to me! era o refrão forte. Não me importava que Josephine não sorria, era bom vê-la ali perto de qualquer forma. E por ter me sentido tão ligada à postura dela ali, resolvi pesquisar mais sobre sua carreira nesta semana e bem, descobri que podemos ouvi-la em outras duas bandas: Ladies who lunch (que regravou Pixies e Sonic Youth num projeto chamado "Kims we love", que nome fofo!) e Josephine Wiggs Experience. Mas um outro dia eu volto a falar dela aqui. 

E o que falta dizer? Que Breeders curou a minha angústia, a minha cólica, e me fez parar de pensar na vida por algumas horas? Já disse... Enfim, The Breeders é amor! E amor emanava do violino em Do you love me now?, que a princípio recusei a mim mesma a cantarolar junto, porque conforme a vida e Beauvoir tem me mostrado, embarcar de olhos fechados nessa coisa romanticazinha não dá muito certo, mas de repente lá estava eu cantarolando e quase ordenando: C'mon c'mon come back to me right now! Realmente aquela semana foi estranhamente boa e surpreendente... e isso se confirmou ainda mais quando consegui um autógrafo da Kelley Deal.

E o frio parecia até ter ido embora... Summer is ready when you are.

phrasal verbs que ilustram a vida - parte 1 - walk away

walk away phrasal verb DIFFICULT SITUATION
1. disapproving to stop being involved in a situation because it is difficult to deal with or does not give you any advantages