terça-feira, 16 de outubro de 2018

nova edição do curso Mulher e literatura: Woolf, Beauvoir e tantas outras

O curso tem duração de quatro encontros:
Quartas-feiras, 31/10, 07, 14 e 21/11 das 19h às 22h no Eugênia Café Bar - Rua Cônego Eugênio Leite, 953 - Pinheiros - São Paulo - SP
taxa única de inscrição: R$ 50,00
Formulário para reserva de vaga e inscrição: https://goo.gl/forms/lOClGmPo14k6ZpS52

As discussões sobre mulheres, feminismos e gênero têm ganhado muita força e amplitude nos últimos anos, principalmente no campo da Literatura. Para além da esfera da Internet, o surgimento de grupos que motivam a leitura de obras de diferentes gêneros escritas por mulheres, o fortalecimento de grupos de escrita para mulheres e do próprio movimento feminista (em suas mais variadas vertentes) traçam um caminho – ainda bem – sem volta. Já não nos deixamos passar imunes à pergunta: “dentre os livros que li esse ano, quantos foram escritos por mulheres?” Até que a descoberta e a busca por autoras tornam-se quase naturalizadas.
Com o objetivo de contribuir com esse movimento, nasceu o curso “Mulher e Literatura: Woolf, Beauvoir e tantas outras”. 
Por que Woolf e Beauvoir? As duas são escritoras consagradas que nos deixaram reflexões ainda muito importantes para pensarmos o problema da construção da ideia de inferioridade da mulher. E ainda, há um “encontro” entre as duas: Beauvoir era leitora de Woolf! Mas, como apreciadoras da literatura que diversas mulheres têm produzido, e cientes da importância do diálogo, do debate, sobre essa produção, como apontamos acima, propomos estendermos nossos comentários, considerando também outras escritoras.
Além disso, um bordado poético inspirado no tema e no conteúdo das aulas será produzido por uma das professoras e fará parte da produção final de um fanzine colaborativo. Ele será criado a partir das impressões e resultados dos exercícios de escrita propostos ao longo dos encontros.

Juliana Oliva é mestra e graduada em Filosofia na Universidade São Judas Tadeu (USJT). Atualmente é doutoranda em Filosofia na EFLCH-UNIFESP, onde pesquisa a relação erótica autêntica como imagem da reciprocidade em Simone de Beauvoir, e tem trabalhado com a oficina “Deve-se queimar Beauvoir?” em espaços de cultura. Também escreve relatos poéticos em um blog chamado “a better version of me”.

Renata Cristina Pereira graduou-se em Letras pela PUC/SP em 2011 e em Filosofia pela USJT em 2017. É mestranda do curso de Filosofia na EFLCH-UNIFESP, onde pesquisa a obra de Virginia Woolf a partir do aparato teórico do filósofo francês Paul Ricoeur. É professora de Literatura na rede privada do ensino básico e educadora de Língua Portuguesa no Curso Popular Mafalda.

Rita Alves é formada em jornalismo, com especialização em Gestão da Comunicação pela ECA-USP. É fundadora da marca de bordados autorais e personalizados Dona Rits (@donarits) e idealizadora do projeto de intervenções urbanas bordadas Cabe Mais Amor (@cabemaisamor). Também bordou um dos painéis cenográficos da peça O Resto é Silêncio, exibida em dezembro de 2017 no Sesc Santo Amaro, e já bordou para o projeto Flores para os Refugiados (@floresparaosrefugiados).

evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/151986369081763/ 

domingo, 10 de junho de 2018

Curioso, nestes dias, beber sozinha num bar onde se escuta alguém cantando que convida todo mundo para sua festa, menos "você, que não presta". Eu sei que não é exatamente assim. Curioso escolher a cerveja uma vez compartilhada com alguém de beijos tão específicos e tão agradavelmente precisos que nunca mais deu notícia e sentir apenas o gosto da bebida e não daquela ou de qualquer outra ausência. E acima, uma tv calada e a cilada da imagem de homens que cozinham sob um título de um quadro que sugere que é a mulher quem manda. Curioso, nestes dias, depois do encontro no bar com as imagens da música, do beijo ausente e da tela, assistir a uma peça sobre três mulheres que partem. Partidas descritas pela palavra "preciso", não para evocar "precisar", mas "precisão", assinala a atriz.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Era esse o calor. Era exatamente esse o calor da xícara de chá de louro e do vermelho do batom que estavam entre os preparativos para o primeiro passo dado com as meias pretas. 
Por que as meias em Fevereiro? 
Ora, por que tanta festa e tanto calor em Fevereiro?
Não foi preciso responder a nenhuma dessas perguntas porque o calor, as meias, o chá, o sangue, as coincidências e o encontro e os seus desdobramentos fluíam muito bem. Tão bem, que era fácil lidar com os blocos de calor, alinhavados um a um pelos passos, agora livres das meias, na direção Oeste e de outra falsa e mágica realidade a cada encontro. E a cada encontro ficavam elástico, vestido, leite, touca; e voltavam fios de cabelo. 
Enquanto isso o clima abrandava - que bom, o frio! - até (de repente, quase simultanemante) a geada. Não foi longo o inverno, como poderia ter sido, foi até fácil juntar o leite derramado, dar novo significado ao vestido, devolver os fios de cabelo e calçar os 3/4 de agressividade do frio.
É certo que houve tentativas de apagão, que foram destruídos os mapas poéticos de construção, que parte das pernas congelou. E que, outra vez, quase simultaneamente, o calor voltava a incomodar. Mas de algum modo tudo se passou como se nada tivesse derretido ou sucumbido. As folhas, as flores, todos os blocos de novos trinta dias passaram sem trincar e sem que fosse preciso contar. Por que contar agora então?
Não contou nem um segundo. Nem mesmo contou com a possibilidade desse calor, exatamente esse calor, voltar arrastando as meias, a agressividade, os fios de cabelo, a raiva, o leite derramado, a manipulação da luz, as coincidências, a covardia.
Quantos anos cabem em um nunca mais? 
Quantos blocos de calor será preciso descosturar para passar?
Para que evaporem as lembranças tristes que doze meses depois desatam e desaguam sem avisar.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Lá vem elas,
víboras vozes.
Avós me livrem!
Levam vida, vôo.
Falam, falam, falam.
Não escutam.
Regulam minha palavra,
Jogam o amor que eu não quero na minha cara.
As vozes às vezes voltam.
Vínculo velho, gasto, difícil.
Por um fio
ainda ouço os gritos
que humilham com sangue e com
um pacote de valores podres
sobre a herdeira que não fui.
Sobre o cume que não vi.
Vocalizam os "bons partidos" que deixei
por aqueles (que partem) com quem dormi.
Punições por pensar.
Recompensas se dissimular.
Para o dedo em riste,
meu riso
da minha falta de juízo.
Meu ridículo passado de boneca
num vidro - atiro!
Frustrar expectativas,
reconheço, vozes,
com carinho,
quase vocação.