quinta-feira, 1 de agosto de 2013

rock, fanzines, Breeders e eu - "Summer is ready when you are!"

O rock, os fanzines, o feminismo, a filosofia, algumas pessoas, e tudo isso junto, me salvaram. Ter vontade de escrever este post me faz lembrar de quando eu descobri os fanzines, e quando comecei a fazer o meu, o saudoso BURN! Don't Freeze!!, cujo slogan era "música - dicas - idéias - críticas", isso foi há pouco tempo, quando "ideia" ainda tinha acento. Ele nasceu no final de 2003, na virada para 2004 - qualquer hora faço um post só sobre ele aqui! - e morreu na virada de 2007 e 2008, deixando a semente para um novo zine, o fracassado Levemente inviável, que era simplesmente um natimorto, mas tinha boas intenções. Logo veio o Histérica, ideia de duas amigas queridas, zine feminista que foi muito especial, em outro formato, em outro contexto, mil coisas borbulhando e que... teve seu tempo... Será inesquecível pra mim mas hoje não estou mais nele. Meu ato de "zinar" hoje está concentrado aqui, não ainda exatamente do jeito que eu quero, mas já tomando forma... e o que acontece aqui me lembra muito aquilo de "música - dicas - idéias - críticas": um lugar onde eu podia dizer o que eu queria, tentar apontar algo que eu achava errado, ou escrever com canetinha e paixão sobre uma banda que me arrebatava... só que sem peso, sem pensar nas consequências, coisas que a gente faz no final da adolescência... Dez anos depois eu me sinto mais cuidadosa aqui, sem certeza das "minhas verdades" e do quanto posso dizer que as coisas são assim e ponto final.
Enfim... mas deixando um pouco o peso do tempo de lado, a minha ideia neste post é retomar um pouco dessa relação despretensiosa ouvinte-banda em uma folha, ou uma tela, em branco, preenchida por um texto e algumas fotos. O que me leva a fazer isto é o show da banda The Breeders, que aconteceu semana passada, no dia 24 de Julho de 2013, no Cine Joia.

Ahooh Ahooh Ahooh Ahooh Ahooh Ahooh é o barulho que vem à minha cabeça quando penso em Breeders... inevitável não lembrar do hit Last Splash, já que ouvi falar da banda pela primeira vez na grande mídia, numa tal de Mtv, e que, sim, é uma música muito legal! Last Splash é também o disco que faz 20 anos, o motivo do show, que consistiu em tocar o álbum do início ao fim, na ordem do cd, do jeito que dá pra escutar em casa... com uma música terminando e você já ansiosa para a próxima começar, é como se fosse uma música só que você sabe cantar do início ao fim!!! 
A primeira vez que vi a banda foi em 2008, meu primeiro festival com muita gente, quando multidões não me incomodavam, nem me davam falta de ar. Não consegui ficar tão perto, mas até que eu conseguia enxergar um pouco porque eu sou grandona, né, e foi incrível. Lembro que na hora de Last Splash, a música, o hit, comecei a pular entre as pessoas e torci o pé... foram alguns dias de pé arrastando no trajeto Mooca-Perdizes para o trabalho, mas o pior, foi o pé arrastando no show do R.E.M. três dias depois, sem pulos, mas com muita alegria também. Este retorno às Breeders foi tão incrível quanto à primeira vez, mas foi outro momento.
Não sou mais tão jovem, não me refiro tanto à idade, mas mais em relação a experiências, emoções, e rabugice com o que já me aconteceu em tão pouco tempo, enfim... mas mesmo assim o coração pulou, principalmente ao ver um coração lindo no flyer do show, o coração da capa do disco, ao saber que haveria um show das Breeders há poucos minutos de casa (embora a SPTrans não entenda bem esta distância), onde eu ouviria o Last Splash todo... sim, TODO, incluindo a faixa cinco, Roi, que eu amo mas não acho que seja tão popular para que resolvam tocar em qualquer outro show. Yay! Passei por cima das dúvidas e das inseguranças pessoais, focando só no amor à música, comprei o ingresso e deixei pra lá os livros de francês que preciso para um curso que começa na semana que vem.  Mas as dúvidas e as inseguranças voltaram... e joguei o Last Splash em cima delas: coloquei o cd pra tocar como trilha sonora na faxina do quarto, e eu estava sorrindo de novo e desistindo de pegar o dinheiro de volta, e me lembrei disso todas as vezes em que as dúvidas voltaram. (Alguém me ajuda a comprar os meus livros de francês com desconto? Realmente, ainda não comprei...)
Poderia comentar cada música do show, mas isto eu deixo para minhas amigas e amigos especialistas em Breeders, porque afinal, o meu amor pela banda aumenta a cada show, consiste em algo em processo, não está completo e eu não conseguiria analisar o show tecnicamente com aquelas precisas informações enciclopédicas que enriquecem o nosso conhecimento. O meu negócio é sentimento, sinto tanto quanto penso, às vezes penso mesmo porque sinto demais. 
E foi pelo tanto que pensei sobre a falta de ar que tenho sentido, a sensação de estar presa em multidões, que me fez decidir: verei o show da parte superior da casa, sentada e de longe, já está bom. Parecia o bastante já ter saído de casa no super frio que chegou em São Paulo naquela semana e sob efeito de quarenta gotas de Buscopan para aguentar a super cólica que chegara naquele mesmo dia... tudo isso em meio ao meu caos emocional, porque as coisas não cessam de acontecer ao seu redor nem mesmo nas férias, nem no dia de um show incrível. Mas quando se tem amigas queridas, é possível superar algumas coisas, e foi por causa de uma delas que eu pensei que talvez não houvesse problema em ficar lá na frente (no lugar incrível que conseguimos chegando duas horas antes do show!) por pelo menos duas músicas, ou cinco (Roi é a a quinta!), ou por todo Last Splash, bom, mas aí eu já estava BEM na frente, com as letras empacadas na garganta, me sentindo rodeada por um bocado de gente hipnotizada que não ficaria muito feliz em ceder passagem no meio do show... aliás, com razão essa gente! Então eu respirei fundo, com lágrimas rolando enquanto tocava Drivin' on, e me apoiei no degrau que havia abaixo do palco, pensando: "Ontem eu troquei ideia com o Lee Ranaldo, e hoje eu vejo e ouço Breeders aqui, na minha frente". As condições naturais, a condição de fêmea, podem ser transcendidas, se você se encontra numa situação onde elas possuem outro significado, me ensinou Beauvoir, e havia tanta alegria ali que as cólicas se foram, e a angústia do caos emocional daquela semana foi suspensa pelo tempo que as músicas duraram, prolongando-se até o dia seguinte. 

I like all the different people. I like sticky everywhere. Look around, you bet I'll be there! era o que eu pensava na faxina, imaginando como seria ver a banda mais uma vez, embora eu me encontre atualmente num estado quase recluso, a vontade era de cantar esses trechos da música Saints
In the crowd you bet I'll be there! E a multidão era assustadoramente bonita: as pessoas cantavam, gritavam (ok, poderiam ter gritado menos nas belas pausas de Roi), pediam a atenção da banda (embora a melhor atenção que pudéssemos receber era a música) e até queriam dar mosh. No palco, as irmãs Deal, especialmente a Kim ("Be good! The Pope is watching you!", ela provocou), eram só amor! A banda toda era especial ali, mas não dava pra perder nada de Kim e Kelley! O contraste das Deal era Josephine Wiggs, a baixista, com a sua postura imponente que prendeu o meu olhar, embora ela parecesse descontente, nervosa, ou triste, com um ar fechado, ela e seu baixo me transmitiam a sensação de serem inabaláveis. Ela, seu baixo, e Head to toe, que veio na leva de músicas, depois de tocarem todo Last Splash, anunciada por Kim como uma música cuja letra fora escrita por Josephine: Your face looks good to me! era o refrão forte. Não me importava que Josephine não sorria, era bom vê-la ali perto de qualquer forma. E por ter me sentido tão ligada à postura dela ali, resolvi pesquisar mais sobre sua carreira nesta semana e bem, descobri que podemos ouvi-la em outras duas bandas: Ladies who lunch (que regravou Pixies e Sonic Youth num projeto chamado "Kims we love", que nome fofo!) e Josephine Wiggs Experience. Mas um outro dia eu volto a falar dela aqui. 

E o que falta dizer? Que Breeders curou a minha angústia, a minha cólica, e me fez parar de pensar na vida por algumas horas? Já disse... Enfim, The Breeders é amor! E amor emanava do violino em Do you love me now?, que a princípio recusei a mim mesma a cantarolar junto, porque conforme a vida e Beauvoir tem me mostrado, embarcar de olhos fechados nessa coisa romanticazinha não dá muito certo, mas de repente lá estava eu cantarolando e quase ordenando: C'mon c'mon come back to me right now! Realmente aquela semana foi estranhamente boa e surpreendente... e isso se confirmou ainda mais quando consegui um autógrafo da Kelley Deal.

E o frio parecia até ter ido embora... Summer is ready when you are.

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