domingo, 19 de janeiro de 2014

Da vida que muda como se troca de faixa ao escutar um disco. Da vida que muda como um final de uma temporada e o começo de outra em um seriado. (continuo péssima para títulos!)

I'm lost again
And I'm on the run
Looking for love
In a sad song

Torch - Soft Cell


Há um lugar em São Paulo que é uma espécie de "Central Perk" do seriado Friends pra mim... Na verdade é melhor do que o "Central Perk", devido ao tema e à proposta. E eu não tenho duas amigas e três amigos que formam um grupo inseparável que frequentem esse lugar comigo o tempo todo mas eu tenho boas amigas e bons amigos por aí, em círculos diferentes, e pessoas queridas que aparecem e reaparecem na minha vida o tempo todo. Trata-se de um lugar que conheci por acaso, na busca por aquilo que amo e não entendo e que sinto e não explico: música. Isso foi há muito tempo, há quase 10 anos. Em dez anos, novos sons, novas pessoas, novos abraços, novos amores, novas decepções, novas experiências e novos medos pelas coisas novas. Ontem estive lá em busca da música e das pessoas, hoje esse lugar é um novo espaço com uma nova proposta mas com as mesmas pessoas. Foi a primeira vez que fui sozinha até lá depois de cair em um dos buracos desse lugar... o lugar é adorável mas tem buracos e ovos no chão, como há em todos os lugares, por isso qualquer um(a) pode cair se não tomar cuidado onde pisa. Foi a primeira vez que apareci lá sozinha desde que saí do buraco "C", foi estranho, frio e havia pouco ar para respirar no início. "Não deveria ter vindo", pensei nos primeiros minutos. A sorte é que há um balão de oxigênio, imagens que distraem como em um delírio e lenços de papel no banheiro. Respiração no lugar, olhos enxutos e cabeça erguida, saí do banheiro e encontrei J., companhia de longa data nesse lugar e em outras caçadas por música. Sim! Eu deveria ter ido, os ovos no chão pareciam agora massagear os pés, eram ovos de borracha! Logo cumprimentei V., quem levava os bons sons para aquela noite, quem pouco conversou comigo desde que nos conhecemos mas que teve um papel tão especial na minha angústia no lançamento do livro de W., onde eu estava sozinha e incomodada pela presença de C., quando eu ainda tinha um pé dentro do buraco. Era preciso que nos reuníssemos para escutar os sons de V.! Por isso chamei seu vizinho A.,  que foi também meu companheiro de filosofia e ruídos, alguém que sabe encontrar beleza no som de uma britadeira... embora ontem só houvesse sons delicados no lugar, as britadeiras estavam apenas na minha cabeça. Éramos J., A. e eu em uma mesa com outros personagens com nomes e muita simpatia, um pouco longe de C., ator de uma novela mexicana onde atuei, por quem eu tenho alguma simpatia desajeitada que não encontrou direito o seu lugar. V. começou a tocar as suas músicas e a cantá-las sem microfone com uma surpreendente e bela voz, ele nos apresentou também músicas que não eram suas, músicas que gostamos: Oh! You Pretty things! E uma música de quem gostamos, de um amigo que está longe, era uma música de W., o do livro, sim, o do livro bonito, alguém com quem eu tive um passado e quase um outro passado que pode ser algo no futuro, um futuro passado, um passado futuro que coça e que me dá ansiedade porque não posso prever e que terei que ressignificar mas não sei como o farei porque... porque... porque ainda não chegou. Retomo a respiração. Anyway, V. elogiava W. antes de revelar seu nome e eu cutucava J. dizendo "É o W. É o W" e era. Talvez aquele tenha sido o momento mais surreal da noite, eram muitos dos meus passados, muitos futuros se construindo, muitas coisas se ajeitando e acordes tão bonitos que não sei fazer com letras que não sei escrever que traziam uma pausa para tanta ansiedade e tanto medo que me invadem nos últimos dias.  
Uma vez um amigo me disse que iria escrever um seriado sobre a minha vida amorosa. J. escreveu que ontem o seu dia parecia um final de temporada, não tenho a menor ideia de quais seriam os motivos dele para escrever isso, mas para mim parecia um começo de temporada. Contudo, a roteirista sou eu e agora cabe a mim decidir o que vou escrever.

sábado, 4 de janeiro de 2014

O Jogo da Amarelinha, capítulo 7 (Cortázar)

Toco a tua boca, com um dedo toco o contorno da tua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a tua boca se entreabrisse e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que minha mão escolheu e te desenha no rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade eleita por mim para desenhá-la com minha mão em teu rosto e que por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a tua boca que sorri debaixo daquela que minha mão te desenha. 
Tu me olhas, de perto tu me olhas, cada vez mais de perto e, então, brincamos de ciclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, aproximam-se, sobrepõem-se e os ciclopes se olham, respirando indistintas, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se nos teus cabelos, acariciar lentamente a profundidade do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu te sinto tremular contra mim, como uma lua na água. (CORTÁZAR, J., O Jogo da Amarelinha, p.50)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Adeus Ano Novo

Eram cinco para celebrar a chegada de mais um ano, embora não compreendessem bem a celebração em que estavam envolvidos. Entendiam de outros tipos de celebrações... morar juntos, emprego novo, bolsas de estudo, trabalho de conclusão de curso, curas mas... ano novo? Dormir em um ano e acordar em outro? Ou, ficar acordado entre dois anos? De qualquer forma, o que fariam naquela noite? Decidiram reunir-se na casa de um deles com alguns sucos que o primeiro levou, um brigadeiro com cerejas que a segunda fez, salgadinhos comprados pela terceira e umas cervejas e baguetes recheadas que o quarto e a quinta providenciaram. 
Eis a comida e a espontaneidade da ceia feita de improviso, todos rodeavam a mesa e tinham o primeiro assunto da noite, que logo foi deixado de lado para que continuassem os assuntos que ficaram pela metade ao longo do ano, sabe como é, porque é preciso acordar cedo no dia seguinte, ou porque havia muito trabalho por fazer em casa, roupa para lavar, aquele casamento que tomou tanto tempo por causa de roupa, cabelo, presente... quando viram, a tal da virada do ano era uma ótima oportunidade para continuarem as suas conversas sobre a pessoa que alguém encontrou no aplicativo de paquera, as intrigas da família, o novo cargo no trabalho, o resultado dos exames de sangue, aquele show que arrebatara a todos, o namoro que terminou, os novos projetos, os filmes que já não estavam mais em cartaz... quantas conversas iniciadas em doze meses e que eram concluídas em poucas horas! Era como se todos os cafés, as festas de aniversário, as cervejas, os piqueniques, a hora do almoço e os breves encontros durassem o tanto que tinham que durar, sem interrupções! Sem interrupções, pelo menos por algumas horas, até os celulares começarem a fazer cócegas nos ouvidos ao emitirem aqueles sons de pequenos quadradinhos de metal caindo no chão, ruídos que só eram encobertos pelos estouros esparsos dos fogos lá fora, que não pareciam compor sons mas sim um movimento de martelar na cabeça.
- Que horas são? - exclamou a quinta, que não queria fazer uma pergunta pois tinha o celular nas mãos e as horas na sua cara naquele momento. 
- Dez e meia, e nem percebemos. Até que estamos passando bem, sem aderir à felicidade compulsória que todos perseguem lá fora. Ou que persegue a todos? - refletiu a segunda, que era encarada pelo quarto, na porta do quarto que havia em frente ao cômodo onde estavam reunidos. 
- Mas  - começa o quarto, provocando a segunda muito mais com o olhar do que com o que dizia não me diga que você que nos enchia tanto para comemorar a troca da folhinha, não gosta mais nem mesmo do momento das promessas para o ano novo, vai? Não me diga que morreu aquela sua curiosidade em relação ao que cada um de nós pretende fazer ao longo dos próximos doze meses? Hein?
Os quatro arregalavam os olhos e sentiam que a brincadeira tornara-se perigosa... se queriam estar acordados no "Ano Novo", deveriam saber que ouviriam os fogos, a contagem regressiva, veriam os vultos brancos, as sementes de romã e o prato de lentilhas dançando ao som do "Feliz Ano Nooooovo!!!" e então chegara a hora de falar no assunto:
- Não sei. - dizia a segunda, com lágrimas nos olhos - Não sei do que você está falando. Quero dizer, eu sei, eu sabia. Hoje não sei. Não sei quem eu sou em alguns momentos. Sei que tive um ano ótimo mas não sei qual é a minha posição no mundo na virada de um ano para o outro porque não entendo o que isso significa pra mim. Não entendo mesmo.
O quarto, confiante: 
- E precisa entender, querida? Não precisa. É só uma brincadeira. Ei, veja só como é simples. Minha resolução de ano novo é passar mais tempo com a minha família, que são vocês quatro! A família que escolhi, quem entende as minhas ideias frias, os meus comportamentos descontrolados e as minhas roupas furadas! E as minhas declarações mais lindas com o fundo musical feito pelos fogos...
Entre gargalhadas, a quinta respira fundo, se recompõe e com seriedade afirma: 
- Eu vou parar de fumar.
Boquiaberta, acompanhando com o olhar a saída repentina da quinta após a declaração repentina, a segunda, com a voz fraca coloca a sua promessa: 
- Eu só quero passar mais tempo com o meu cachorro que está comigo há dois anos, é só isso que tenho para resolver com urgência. Só.
E o terceiro, com ar envergonhado e as bochechas vermelhas como se estivesse em um daqueles momentos em que todos discutem política ou literatura, joga na mesa a sua resolução: 
- Definitivamente eu preciso ler mais!
Dirigindo-se ao terceiro, o primeiro diz: 
- Amigo, o tanto que você conseguir ler, eu tentarei me exercitar! Vou fazer academia!
Parecia que a brincadeira fora fácil, já estavam todos rindo aliviados, como se tirassem pesos das costas. E até a quinta já voltara para a roda, acalmada por um abraço do terceiro, que não tinha mais as bochechas vermelhas, com quem dividia um copo d'água. Estavam tão positivos que começaram a comparar as promessas para o ano novo com as conquistas do ano anterior. Todos concordavam que aquele fora um bom ano! O quarto tivera uma vida de pesquisador agradabilíssima, com bolsa de estudos e um trabalho elogiadíssimo, indicado para publicação. O primeiro estava muito feliz por morar junto com alguém, em uma "união estável", como ele costumava dizer por aí. A terceira estava saltitante com o novo emprego e todos os projetos e viagens que ela realizaria ali! A quinta não poderia ter tido um ano melhor, tinha encontrado a cura de uma doença que ela nem mencionava mais e o seu rosto irradiava serenidade. Enquanto a segunda comprara um apartamento, pertinho de uma estação de metrô e de um parque onde podia levar o seu cachorro passear! 
- Ora, do que estamos reclamando?
- Não deveríamos estar comemorando então?
- Tá. Mas e agora? Não entendo. Já não comemoramos cada um desses acontecimentos? O que tem a virada do ano com isso?
- Por acaso vocês lembram da última vez em que comemoraram o ano novo? Eu não.
- Não lembro. Mas lembro de algumas comemorações específicas.
Não importa quem colocava essas perguntas sobre o ano novo, isso não os identificava. O que os identificava eram os planos, o detalhe que acrescentavam àquela suposta ceia, as conquistas e as lembranças da época em que celebravam o ano novo. O quarto recordava o ano novo em que passara no motel com uma pessoa cheia de adendos e anexos em sua vida. A quinta quase se mordia de raiva ao lembrar que em uma virada de ano participara dos trotes e brincadeiras humilhantes para se integrar ao grupo. O primeiro sorria por saber que pelo menos ali ele não estava chorando em sua cama, nem enlouquecendo com o barulho dos fogos, como acontecera certa vez. A terceira se sentia leve, longe de outros amigos que ela considerava tão queridos quanto aqueles quatro, se sentia bem por estar longe dos outros pois sabia que esses outros realmente celebravam a data e ela sempre se sentia triste por estragar o ano deles. E a segunda recordava de muitas viradas, até mesmo das que ela comemorara, mas não quis compartilhar todas, somente aquela em que ela deixara a sua realidade com o ano velho e entrara num sonho de ano novo que viria a resultar num pesadelo, do qual ela só acordou quando já estava sozinha e com medo. 
De repente o vizinho gritou "Feliiiiz anooo nooovooooooo! Vaaaaai Corinthiaaaaans!" e o cinco se entreolharam. Não sabiam o que dizer, nem quem eram, nem o que estava acontecendo, ou sabiam que nada estava acontecendo. Tentaram continuar a conversa mas toda conversa morria, olhavam para o relógio. Era como se estivessem atrasados, como se tivessem algo mais importante para resolver e começavam a tentar concluir rapidamente todos os seus assuntos. 
A segunda sentia as lágrimas lutando para sair pelas venezianas dos seus olhos, sentia calor, via o cômodo girar, não conseguia se concentrar no que os
amigos tentavam dizer, parecia que a pele do seu corpo ia estourar e agora já sentia frio. Não aguentou, teve que dizer, na verdade precisava gritar. Subiu no sofá e gritou: 
- O meu cachorro!!!!! O meu cachorro! O meu cachorro! Eu não sei o nome dele!

sábado, 21 de setembro de 2013

Tem erres que me arrebatam

Tem erres que me arrebatam.
Tem olhos que me roçam. 
Tem sorrisos que me rendem.
Tem erros que rondam a minha cabeça.
Tem regras que me irritam!

Tem ruas que não trazem o bom inesperado.
Alguns jogos me derrotam, me dão raiva, realçam o meu cansaço.
Relacionamentos ridículos! 
Risos que me censuram.
Contratos a serem rompidos e
amores a serem desconstruídos 

Tenho desorientações.
Tenho medos reais.
Tenho relações rasas que a imaginação aprofunda.
Tenho desejos que não revelo.
Tenho rios que me secam.

Tem olhares e ruídos que me roçam,
me arrebatam,
E que passam rápido...

Assunção de uma dor

O começo da doença
Come todo sonho que existiu antes,
Delata todo existente responsável pela própria dor.
E a dor dilata o corpo todo,
Porque nele exibe ardor.
Cantarolando a canção
De Leminski e Assumpção
Sobre a dor elegante,
Que é o único legado
No instante em que sente a dor;
Qual é a cor dos comprimidos
Na estante?
Para estampar
Esta dor que não se estanca?
Adora a dor
Para ver se arranca
O dolorido do corpo,
Que dura e perdura.
Pendura a dor
No pescoço,
E rasteja.
Dourada, a dor,

É tudo que lhe resta.

A vida de um beijo

Na distância,
Entre os estados e o tempo,
Só nos resta o silêncio.

Não há a distorção no som,
Nem os nossos beijos dissonantes.
Só me resta uma saudade dançante.

A memória das tuas mordidas
Em meus lábios ainda tem vida:
O melhor beijo da minha vida!

O sotaque, a gíria;
Guria eu era naquele dia gris,
Entrelaçando os dedos nos teus cachos grisalhos.

Cinza como os teus cabelos
Era a cor daquele dia
De beijos, braços, dentes e despedidas.

Frio, São Paulo, braços dados
E o calor do teu abraço como um porto
Que me alegrava.

O teu olhar que tentei fotografar
Em meu olhar agora evapora.
Porosa é a minha memória.

Tu descansas agora alegre
Em teu porto, e pelo ar
Tu deixas a guria.

Em Porto Alegre,
Tu evaporas o melhor beijo

Da minha vida!

Anônima mulher

Mulher, qual é o seu nome?
Acorda, mulher!
Quem é você?

Mãe, amiga, amante, filha,
Perfeita, cheirosa, carinhosa, frígida.
Uma barriga, um objeto; e o nome?

O que leva o seu nome, mulher?
Os objetos da casa e os enfeites do corpo?
O corpo ao lado dos objetos?

Acorda o corpo, mulher!
Quem é você?
Você não é objeto!

No corpo, as marcas;
Na identidade, um vazio;
A boca, sem voz:
Só um grito contido.

Salta alto,
Sangra e compra briga
Com quem a obriga.

Quem é você nesta briga?
Por que cala por uma medalha?
Escolha estourar esta muralha, mulher!

Quem é você?
Anônima, sem sombra,
Desejada como silhueta.

Boneca de carne,
Qual é o seu nome?
Quem a cala?

Confinada em casa
Na redoma de vidro,
Eterno feminino!

Roupas a apertam,
Vermelho nos lábios impera,
Máscara em seus olhos e na sua fala.

Fala, mulher!
Qual é a sua resposta
À farsa que a forçam?

Mulher, acorda! Quem é você?
Mulher? Onde está você?!
Acorda!!! Acorda... Mulher?


terça-feira, 10 de setembro de 2013

silly rhythm, silly rhymes

eyes of different sizes.
noise and silence
make her smile,
at the same time,
at night, wondering why
it is what it is.
It happens every time!
So what was she thinking about?
Have all her hopes and dreams
gone away
with the pain?

phrasal verbs que ilustram a vida - parte 5 - give up / give up on

give sb up phrasal verb NOT EXPECT
2. ( also give up on sb ) to stop expecting that someone will arrive
I've been waiting half-an-hour - I'd almost given you up. 

sábado, 7 de setembro de 2013

coração tinteiro versão 2

Antes escrevia 
para remendar o coração.
Hoje 
descosturo o coração,
rasgo o seu tecido
e quebro as suas linhas,
só para depois
costurar 
uma escrita mais bonita!

coração tinteiro versão 1

Comecei a escrever
para remendar coração
partido.
Hoje ainda tenho,
vez ou outra,
o coração
em pedacinhos.
Mas porque descosturo
já pensando
em um verso futuro!

olhar alheio

Vocês, que sabem escrever,
poderiam me contar
se
tô fazendo isso direito,
mas
com jeitinho
se 
acharem que tá tudo
feio!

batatas #5

batata quente
aquecida pela mão amiga.
não se faz purê 
sem
batata cozida,
nem sem
batata descascada,
nem com
batata descarada.
batata quente,
músculo latente,
trabalha a mente.
quem mente?
quem?
queimou!

Só assim escreve

Menina, que mania
é essa
de só escrever
quando se enrosca
em alguma peça?
Sem essa!
Sai dessa!

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

So, what's the size of the sad sound?

So, so spoiled 40-year-old boy,
Big bright beautiful eyes,
Smooth gray hair
And sweet voice.
What's next?
Is it a kiss?
Or is it a hit
of my mouth on a lie?
Like a fist on a knife.
Once you said something about
the difference between our
sounds:
"other sounds, other beats, other pulses."
Pull your music building down
Because I love dissonance.
Suck it up!
And sway for the small sounds.
Say something about
The size of your
Arrogance.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

batatas #4

seca as minhas batatas e
sugere os seus cabelos
nas minhas pernas.
pena que 
se segura
quando se aproxima
a minha boca da sua.

batatas #3

mãos nas batatas: 
 bate a fome, 
 inflama a boca 
 e o fogo. 
 e o beijo foge.

batatas #2

mãos nas batatas. 
bate o calor. 
é brasa! 
batata, você me chama. 
me abraça 
e acende a chama. 
reclama, 
me engana, 
me deixa insana 
e me inflama.

batatas #1

mãos nas batatas, 
bate o meu coração 
mais forte 
para dar o bote. 
ele fecha a boca e foge.

E você?

Eu sou aquela que pisa na própria sombra, que escreve anônima e depois entrega o jogo, mostrando a cara para divulgar supostos textos anônimos. Eu escrevo para construir uma versão melhor de mim mesma, a better version of me, onde o pior apareça: as palavras mais contidas e o indizível das experiências... dos pensamentos, dos beijos, dos medos. Little trouble girl, Good disaster, A better version of me, Lady Lazarus. Ansiosa, dolorida, curiosa, impaciente, stalker. Apreciadora de contextos, verdades, explicações, reflexões, palavras, textos bem construídos, nomes e do seu nome. Qual é o seu nome? Quem é você, visitante?   

EU (Florbela Espanca)

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

sábado, 24 de agosto de 2013

refletir na sala de ginástica sobre o corpo

"Quando mediu sua fraqueza, boa parte da confiança que tinha em si mesma esvaiu-se. Foi o início de uma evolução que a levou a se feminilizar, a realizar-se como passividade, a aceitar a dependência. Não ter mais confiança no corpo é perder confiança em si próprio. Basta ver a importância que os rapazes dão a seus músculos, para compreender que todo indivíduo julga o corpo como sua expressão objetiva.", escreve Simone de Beauvoir em O Segundo Sexo. Li este livro pela primeira vez em 2004 quando eu trabalhava como recepcionista em uma academia de ginástica. Na passagem da adolescência para a juventude, eu me tornava feminista, começava a ler Beauvoir, descobria que tornar-se financeiramente independente e escolher uma carreira não era fácil e me posicionava contra o culto ao corpo e à beleza ideal que... por acaso... ocorria no único local onde eu conseguira trabalho. Li O Segundo Sexo antes de estudar filosofia e antes de ter consciência e coragem (demorou, viu?) de afirmar "sou feminista". Hoje é desse livro que tiro o tema da minha pesquisa de mestrado. Sou mestranda em Beauvoir e frequento uma academia de ginástica, não mais como recepcionista mas como hummm... cliente? Aluna?
Nos últimos anos venho descobrindo (parece que não se descobre de cara, pelo menos no meu caso não foi assim) que tenho disfunção da articulação temporomandibular, também conhecida como "disfunção de a.t.m.", algo que pode ser tratado mas não curado. De minhas idas a especialistas, monitoramento de notícias na internet e conversas com outras pessoas que possuem o mesmo problema pouco concluí e muito descobri... informações como... que há pessoas que ficam surdas depois de algum tempo. Da minha experiência posso contar que as dores aumentam com os anos, dores na mandíbula, nos dentes, na nuca, nos ombros, nos olhos, nos ouvidos, nos braços, além dos zumbidos nos ouvidos e das tonturas. Má postura e ar condicionado me deixam pior, e fisioterapia, acupuntura, RPG, troca de colchão e travesseiro, natação, caminhada, mochila, tratamento ortodôntico, arnica e pomada cataflan trouxeram algum alívio. Relaxante muscular trouxe muito alívio, mas não estou interessada em comprimidos. A placa feita em acrílico para bruxismo trouxe muito, muito alívio. E junto com a placa, a ginástica, ou "academia", como se diz, trouxe muito, muito mais alívio... cerca de trinta dias sem dores fortes e vida quase normal.
 A disfunção da articulação temporomandibular é o primeiro motivo para eu ter colocado os pés na sala de ginástica. Cheguei lá no meio de pessoas animadas em roupas justas e da música energética em volume alto, e pensei, além de já ter informado as instrutoras: "estou aqui pela saúde"!
As dores diminuíram, e outras coisas mudaram. Comecei a refletir sobre o que eu fazia lá, o que eu fazia com o meu corpo lá, o que o meu corpo fazia lá, e descobri algumas coisas... Bem, sempre fui muito sedentária e sempre fugi das aulas de educação física, não tanto pelo esforço físico, mas muito mais pela socialização, e cresci rápido demais devido a uma doença. O que uma pessoa, uma mulher, que viu o seu corpo crescer rapidamente, mais rápido do que a sua capacidade de sustentá-lo e aceitá-lo pode aprender sobre este corpo em uma sala de ginástica? O que uma mulher, criada para tornar-se mulher, na delicadeza, sem luta, sem movimentos bruscos, que não está pensando na aparência pode aprender sobre o próprio corpo em uma sala de ginástica?
Posso dizer que nos últimos meses tenho aprendido que este corpo, que é meu (e é tão difícil deixar isto claro), não é só um objeto visto e legislado, nem só um receptáculo de dor, mas que é um instrumento, é um dos meios que tenho para me colocar no mundo. Na sala de ginástica aprendi a saber como algumas partes do meu corpo funcionam, o que elas podem suportar e o que elas podem mover. Aprendi a equilibrar este corpo ou a me equilibrar neste corpo, a ter confiança nele. E, por incrível que pareça, confiar no meu corpo tem me ajudado a confiar mais em mim mesma. É aí que começo a entender o que Beauvoir escreveu: "Não ter mais confiança no corpo é perder confiança em si próprio." Embora os costumes machistas exaltem a força física masculina e a violência física como prova de virilidade, não podemos descartar a importância de desenvolver a força física, não me refiro a estes propósitos aos quais somos contrárias, mas penso em não descartar a força física como forma de ter algum domínio sobre o mundo, e sobre o próprio corpo, além de adquirir a capacidade de defender-se. Afinal, são os mesmos costumes machistas que exaltam exageradamente a força física masculina e pregam a delicadeza, e o não desenvolvimento da força física feminina. E daí seguem muitos outros obstáculos que conhecemos e dos quais Beauvoir fala em O Segundo Sexo
Meu propósito aqui era contar como curiosamente comecei a gostar de ginástica, dos aparelhos e dos pesos, depois de dar o meu próprio significado à sala de ginástica, e ainda compartilhar uma reflexão que para mim está só começando: o que refletir sobre este corpo?

diversidade sexual, prostituição e revista feminina - quinta, sexta e domingo

Estudo identidade e condição feminina em O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir com o objetivo de levar a minha pesquisa às questões da reciprocidade na mesma obra... mas isso é outro caso. Faço esta pesquisa porque enquanto pessoa me preocupo e questiono o feminino e, consequentemente, as questões de gênero também. Assim, os múltiplos temas desse universo me atraem, e por isso procuro estar presente em eventos onde haja essa discussão, não só pelo lado acadêmico, mas por interesse pessoal. Enfim, não sei se é por que aqui é São Paulo (ondetudoaconteceaomesmotempoagora!), ou se cada vez mais ganha-se espaço para falar dessas coisas, mas havia eventos para eu ir na mesma semana na quinta-sexta-sábado-domingo, é, assim mesmo.
Apesar da minha fama de quem não faz nada e de quem não mora tão longe, no meio de tantos eventos bacanas havia um bocado de coisa pra eu fazer, e a SPTrans continuou ignorando a proximidade do meu bairro aos locais onde acontecem as coisas interessantes, então não me sinto alguém que esteve 100% mergulhada em tudo para escrever um relato completo sobre cada evento, além disso, nem tenho vontade de "fazer a crítica", nem de julgar, os trabalhos e as pessoas que encontrei naquela semana. Meu intuito aqui é tentar escrever sobre as mil ideias, os mil questionamentos e a troca que houve em cada espaço.

Uma quinta-feira do mês de Agosto de 2013

Abertura da exposição interiores : diversidades no Sesc Pinheiros

Era sobre "um mundo ainda marcado pela ditadura do rosa e do azul; do masculino e do feminino" que falava a legenda da primeira foto que vi quando entrei no espaço da exposição ... "sexo biológico", o verbo "desconstruir", "gênero", "identidade", "diversidade"... estas palavras e muitas outras nas falas das pessoas fotografadas... mas isso é Judith Butler, eu pensava, e via que está também na fala de gays, lésbicas, transexuais, travestis, heterossexuais cisgêneros que apoiam a diversidade sexual e de gênero e que questionam a heteronormatividade... Todas, todos e todxs estavam na proposta de Fábio Takahashi e nas fotografias de Walter Antunes! Também na abertura foi exibido o documentário "Amanda e Monick", dirigido por André da Costa Pinto, sobre duas travestis no sertão de Pernambuco, seguido de um debate com Fábio e Walter. O meu primeiro contato com as fotos, rápido e parcial, me fez pensar em desconstrução: a famosa e ideal desconstrução do gênero, a desconstrução do rótulo, a desconstrução do exótico, a desconstrução dos espaços onde se espera que as pessoas das fotos estivessem, a desconstrução do mito... não eram trans, bi, homo, cis, hétero etc cada qual em sua jaula, mas eram pessoas na cozinha, no quintal, no barzinho, lendo, cozinhando, conversando, rindo... vivendo e sobrevivendo. Oh, finalmente, somos todxs pessoas criando significados para cada ação em cada momento, improvisando na vida, e não essências pré-determinadas. Oi, desconstrução! Antes que eu terminasse de ver as fotos, convidaram-nos ao auditório para o documentário e o debate, e foi aí que no meio da desconstrução eu dei de cara com partes que foram bem edificadas a ainda serem desconstruídas, bem, isto na minha opinião... assim, sentindo-me arrogante por me desesperar em minha cabeça dura pensando "mas não é assim, vamos desmontar essa construção cultural", escutei as pessoas do filme e escutei o debate.
    Toda e qualquer intenção ali me pareceu válida, e incrível, mas permanece a vontade de compartilhar as minhas impressões dali, sem julgar e sem achar que quem tem a verdade sou eu, afinal eu não trabalhei no projeto, nem experienciei o que o projeto retrata. Deixo então as minhas inquietações em forma de perguntas: Pensar em desconstruir o gênero, para libertar as pessoas dessa identidade construída, especialmente o gênero feminino e especificamente de um ponto de vista feminista, implica em considerar os aspectos opressores da feminilidade, como a exaltação do corpo extremamente feminino ou de um ideal de beleza a ser perseguido, ou como quisermos chamar... porém nas mulheres trans em geral, ou pelo menos no documentário, essa exaltação aparece como algo positivo e marcante na identidade delas... como a aparência dita feminina, ou as marcas da feminilidade no corpo, passam de carga negativa de muitas mulheres cis a característica revigorante e que causa orgulho na construção da identidade das trans? E será que a prostituição como trabalho bastante frequente das mulheres trans e travestis teria alguma relação com essa exaltação do corpo feminino a ser desejado? E por que as roupas, os cabelos e toda a aparência física de quem abandona um gênero (masculino ou feminino) precisaria necessariamente rumar a outro (masculino ou feminino), ao invés de reinventar-se? Por que associar o seu desejo por homens, ou por mulheres, ou por homens e mulheres, às características ditas femininas ou ditas masculinas? Por que brincar de boneca necessariamente indicaria a homossexualidade do ser humano que nasceu com um pênis e é identificado como "homem", se a suposta "tendência" do ser humano identificado como "mulher" a brincar de boneca não passa de uma construção social e não se trata de algo natural? Por que insistir em acreditar em um deus que não aceita a sua identidade e não questionar o que é, ou se até mesmo existiria, tal deus? Por que um juiz nega a uma trans a adoção de uma criança alegando que o que ela queria era uma boneca para brincar em uma sociedade em que se tenta construir a vontade de ser mãe em todas as mulheres cis dando-lhes bonecas para brincar durante a primeira socialização? E por que uma criança não poderia ser bem criada por um casal composto por dois homens mas estaria bem criada em uma instituição que não lhe ensina o que é gelo, nem que anoitece?
Não cabe a mim condenar, nem encontrar erros nos discursos ou modos de viver de outras pessoas neste texto, mas somente trazer questões que impulsionam a minha vida e a minha pesquisa para tentar propor alguma reflexão. Algumas delas foram compartilhadas, longe do público do debate, no meu retorno à exposição, quando fomos (o amigo fotógrafo Pedro e eu) muito bem recebidxs por Walter, sim, o fotógrafo da exposição, e Luama Socio, que esteve bastante presente no projeto. Walter e Luama foram bastante pacientes nos contando sobre o projeto e sobre cada foto, e ouvindo as minhas indagações e pitacos sobre o assunto. Que a reflexão, os questionamentos e a desconstrução estejam apenas começando.


Uma sexta-feira do mês de Agosto de 2013    

1ª parte da oficina sobre mulheres e prostituição com Margareth Rago na União de Mulheres

Margareth Rago sabe fazer algo que às vezes eu espero que um dia eu consiga fazer e que ao mesmo tempo penso que não sei o quanto acho que se deva fazer... ela trata de assuntos pesados com leveza. Ela é sorridente, ela é irônica e ao mesmo tempo divertida. Não posso negar que faço parte do grupo que corre preencher rapidamente as vagas de suas oficinas.
Mas qual é a da prostituição? Se pensar na desconstrução de gênero na noite anterior me chacoalhou as ideias, pensar a prostituição me deu um nó, como sempre dá! Para contribuir, ou não contribuir, a minha leitura do capítulo sobre prostitutas e cortesãs de O Segundo Sexo não é das mais fluidas, ou seja, o nó fica mais apertado. Mas a Margareth é leve... conta sobre as categorias absurdas que médicos (sim, médicos) já criaram para prostitutas, para mantê-las marginalizadas, como quem conta uma piada. O riso é por se tratar de algo absurdo e já superado, ou o riso é de nervoso por algo tão absurdo ainda deixar resquícios do que não foi superado? E o que foi superado? Gabriela Leite é o tema destacado na oficina: de estudante da USP a prostituta por opção e por revolta contra o tédio na década de '70, e mais tarde candidata a deputada carregando consigo sua militância na questão da prostituição, segundo conta Margareth. Em algum momento a prostituição é opção? Ou, por que existe a prostituição? Amor livre acaba com a prostituição? Enquanto o amor livre não chega, o que fazer com a prostituição, especificamente com as más condições nas quais as prostitutas se encontram? O que se vende na prostituição? O que se vende em outros trabalhos e/ou profissões? Como escolher ser prostituta para quebrar com os padrões de sexualidade feminina e participar do jogo de padrões da política em um simples ensaio fotográfico?
Essas são as perguntas que me guiam[?] nos labirintos da reflexão pós oficina. Não, não tenho as respostas, mas continuam pensando nelas. O que trará a segunda parte da oficina?

Um final de semana do mês de Agosto de 2013

Casa Tpm 2013 no Nacional Club

O que é a revista Tpm? O que quer a revista Tpm? O que quer a revista Tpm em um salão chique em um final de semana com uma feminista radical e com uma profissional da Moda que já apresentou um daqueles programas que lhe contam sobre aquelas coisinhas, aqueles mimos, que você super-tem-que-ter? No cansaço da semana e na falta de empolgação pela desconfiança em relação ao evento, só passei por lá no domingo. Digo que a experiência foi mais interessante do que boa, e que é bom saber o que uma revista dita feminina quer quando propõe um encontro para falar de "mulher". Oi, revista Tpm, falar de mulher não é fácil não, hein? Simone de Beauvoir, e antes dela Virginia Woolf, por exemplo, tinha uma questão: "O que é uma mulher?" Quanto tempo teríamos para responder? Uma vida toda talvez, porém a Casa Tpm fez propostas do tipo "uma ideia em cinco minutos"! Cinco minutos? Cinco minutos pra falar de casamento, "vai!" ... e durava um pouco mais, ok, mas era vago.
Não sei se é por ser o último texto desta série que venho propor, ou se é por se tratar do evento mais descontraído e talvez o mais descompromissado dos três, e também por eu não querer citar nomes de palestrantes, mas este relato segue ainda mais simples.
Ficam as observações e as questões então:
O local era chique e o evento já se colocava como hype, antes de se divulgar a programação já era um evento disputado. As pessoas queriam estar lá por estar lá, e muitas pessoas queriam isto. Era um lugar diferente, tinha uma sala para pintar as unhas, tinha bem-casados de graça (sim, bem-casados bem docinhos e bem gostosos mas que me inquietam enquanto símbolo do evento!), tinha aspecto de programa de tv e tinha patrocinadores aproveitando para vender os seus produtos. Oi? O que eu fui fazer lá? Eu fui até lá para saber o que pode acontecer na festa em que os mimos da feminilidade convidam os feminismos! E o que acontece? Meia dúzia, eu inclusa, aplaudem a feminista radical que tenta acrescentar algo não tão óbvio, que tenta despertar a consciência das mulheres enquanto vítimas de tanta opressão, e ganha a maioria dos aplausos a mulher super-moderna-emancipada que joga a culpa no público que a aplaude. Sim, das três da tarde às sete da noite, mais ou menos, com muitas dores de a.t.m. por causa do ar condicionado forte do local chique e doida por um relaxante muscular, ouvi diversas vezes que a culpa era nossa... nossa culpa por haver machismo, nossa culpa por não termos espaços nos coletivos liderados por homens, nossa culpa por comprar roupas demais, nossa culpa pelos meninos tornarem-se homens machistas, nossa culpa por existirem blogs com o "look do dia", nossa culpa, nossa culpa, nossa culpa! E culpa da famosa "falta de educação", porém não lembraram que muitas vezes é a educação que também reforça o machismo.
Mas para além de ter a oportunidade de pintar as unhas para aliviar a culpa, o feminismo ganhou voz e alguns aplausos na frente das leitoras de Tpm, uma garota viajou horas para o evento por causa da revista e descobriu-se interessada em feminismo, um palestrante comparou o filme A Branca de Neve com o filme Uma linda mulher trazendo a espera do príncipe encantado como problema grave, descobrimos que estamos mal representadas nos filmes, e alguém disse com todas as letras (e não sei se escrevo aqui exatamente da forma como foi dito) que não bater e não estuprar, além de denunciar os outros homens que fazem isto, seria parte da contribuição dos homens com as mulheres... Houve choque e tensão... o feminismo encontrou o discurso da mulher supostamente livre, bem sucedida e resolvida que só-é-vítima-do-machismo-por-culpa-dela. Algo positivo pode ter saído deste encontro, talvez, espero que sim. E algo ficou evidente pra mim: há falha na comunicação. Então eu pergunto: como feministas, nós, feministas (me incluo me considerando feminista e me considerando parte do problema) podemos flexibilizar os recados a serem transmitidos? Como não perder a paciência e como explicar as nossas reflexões a quem se assusta com as mesmas e pelo susto resiste a elas?

E como dar força aos recados? Como dar força ao desfecho deste texto fragmentado cheio de questões e reflexões irritantes, torcendo para que nada seja mal entendido? Aviso que aqui é o fim? Recado dado?

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

" Drivin' " - The Babes in Toyland

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Where were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about youWhere were you. I thought that I knew. What could I do. But think about you 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

vermelho sangue, cor feminina?

É com a chegada do sangue que vem esta secura de carinho. É em seu fluxo, no corpo, que segue o absurdo da falta, da saudade, construídas em metade da humanidade. Uma vez por mês a saudade é sanguinolenta, o suor é frio e a saliva, seca. É o semáforo com o sinal vermelho que se instala dizendo "mantenha distância" e nela instaura uma cegueira que se dirige para cima do sinal, para além do sinal, em busca do que pode sumir a qualquer momento. Cega e surda sangra insegura, pretende segurar quem ela nem sabe se planeja fuga. Quer segurá-lo na imanência? Torna-se rabugenta e é assim que afugenta, e depois se afoga em lágrimas, em todas as lágrimas, por causa da cebola que corta, do sangue que corre e de quem NEM foge. Lágrimas de sangue ilusórias e um sentimento fantástico de falta; nestes dias, é o cérebro que sangra, e o corpo que reflete? Pede reforço de chocolates, remédios e cobertores, de tudo que a impeça de "fazer a mulherzinha"... Tudo isso por que um dia se tornou mocinha... ?

sábado, 3 de agosto de 2013

"All the lonely people Where do they all come from? All the lonely people Where do they all belong?"


Owner of a Lonely Heart - Grey's Anatomy

Forty years ago The Beatles asked the world a simple question. They wanted to know where all the lonely people came from. 



Eleanor Rigby (The Beatles)

Ah, look at all the lonely people
Ah, look at all the lonely people

Eleanor Rigby picks up the rice in the church where a wedding has been
Lives in a dream
Waits at the window, wearing the face that she keeps in a jar by the door
Who is it for?

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?

Father McKenzie writing the words of a sermon that no one will hear
No one comes near
Look at him working. Darning his socks in the night when there's nobody there
What does he care?

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?

Ah, look at all the lonely people
Ah, look at all the lonely people

Eleanor Rigby died in the church and was buried along with her name
Nobody came
Father McKenzie wiping the dirt from his hands as he walks from the grave
No one was saved

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?